O lilás tomou conta da Esplanada dos Ministérios na manhã desta quinta-feira, 21. Cerca de três mil mulheres camponesas vindas de 23 estados, que passaram quatro dias reunidas em Brasília no 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas, fizeram ecoar o tema central do evento em frente ao Congresso Nacional: “Na sociedade que a gente quer, basta de violência contra a mulher”. Cartazes com nomes de mulheres do campo assassinadas foram carregados pelas mulheres durante a caminhada. No final do ato, foram fixados em frente ao Congresso Nacional, enfatizando a importância de políticas públicas de combate à violência. Durante o encontro, as mulheres falaram diretamente à Presidenta Dilma Rousseff sobre os temas discutidos. A presidenta esteve no evento no dia 19.
Na frente dos Ministérios, como no da Previdência Social, as mulheres discursaram cobrando que o salário maternidade seja ampliado de quatro para seis meses também para as camponesas, por exemplo. As camponesas distribuíram à população a Declaração do 1º Encontro Nacional do MMC, onde enfatizam os resultados das discussões, mostrando desafios e compromissos do Movimento. “O 1º Encontro Nacional reafirmou a importância do Movimento de Mulheres Camponesas autônomo, feminista, camponês e socialista. Confirmou a missão do MMC de lutar pela libertação das mulheres trabalhadoras de qualquer tipo de opressão e discriminação; a construção do projeto de agricultura camponesa feminista agroecológico e a luta pela transformação da sociedade. Para isso, é indispensável a luta, a organização e formação potencializando as experiências de resistência popular, onde as mulheres sejam protagonistas de sua história", afirmam num trecho do documento elaborado durante o evento.
Representantes de organizações de mulheres do campo de 12 países, da América Latina, África, América Central e Europa, participaram da caminhada que começou na Catedral de Brasília e percorreu os Ministérios e a Praça dos Três Poderes até chegar ao Congresso. Depois do ato, as mulheres seguiram para seus estados, animadas e levando o documento e todo o acúmulo dos quatro dias de discussão para socializar com as mulheres de suas regiões e seguir nas lutas ainda mais motivadas.
*Leia a íntegra a Declaração 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas
Solidariedade – Mulheres Camponesas doam mechas de cabelo às vítimas de escalpelamento Declaração do I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres CamponesasNós mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas – MMC, vindas de 23 estados, representantes de outras organizações populares, feministas,nacionais e internacionais da classe trabalhadora com o lema Na Sociedade Que a Gente Quer, Basta de Violência Contra a Mulher estivemos reunidas no I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas durante os dias 18 a 21 de fevereiro de 2013, em Brasília/DF.
O Encontro Nacional do MMC contou com a presença da Presidenta da República Dilma Rousseff, da Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres Eleonora Menegucci, da Ministra da Secretaria dos Direitos Humanos Maria do Rosário, da Ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello, da Ministra de Articulação Institucional Ideli Salvatti, do Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República Gilberto de Carvalho, do Ministro de Desenvolvimento Agrário Pepe Vargas, do Governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz, do Presidente da Conab Rubens Rodrigues dos Santos, do Presidente do Incra Carlos Guedes de Guedes, do Diretor de Infraestutura Social de BNDS Guilherme Narciso de Lacerda, de Deputadas (os), Senadoras e outras autoridades vindas de todo o país.
A Presidenta da Republica Dilma Rousseff assumiu o compromisso público de contribuir na efetivação da pauta entregue pelo Movimento de Mulheres Camponesas, e, em sua fala, manifestou a importância da luta e da participação política das mulheres, da força das mulheres camponesas e sua organização no Movimento autônomo.
Este encontro trouxe e aprofundou o tema e os desafios que envolvem a luta pelo fim da violência contra a mulher, entendendo que a violência é resultado do sistema capitalista, da cultura patriarcal e machista que perpassa todas as dimensões da sociedade.
Conscientes dos desafios para a superação da violência concentramos nossos esforços em quatro grandes eixos de reflexão: a) As lutas camponesas feministas e populares; b) A produção diversificada de alimentos saudáveis; c) A Seguridade Social, universalização do salário maternidade e ampliação de 4 para 6 meses para todas as mulheres trabalhadoras; d) A importância da organização do Movimento Mulheres Camponesas.
Após as plenárias houve o aprofundamento dos temas sobre: direitos reprodutivos e saúde da mulher; saúde integral, alimentação saudável e diversificada, a luta contra os agrotóxicos, divisão social e sexual do trabalho, políticas públicas, seguridade social, saúde pública, previdência e assistência, a superação das desigualdades de gênero, raça, gerações e etnia; papel da mulher na agroecologia com destaque à necessidade da autonomia econômica, política e social das mulheres para o enfrentamento à violência.
Foi destaque a MOSTRA DE PRODUÇÃO DAS MULHERES CAMPONESAS. Uma belíssima exposição trazendo uma grande diversidade de sementes, plantas medicinais, artesanato e alimentos, dando visibilidade à importância do trabalho das mulheres no projeto de agricultura camponesa feminista agroecológico.
Foi significativa a socialização da DIVERSIDADE CULTURAL e artística trazida pelos diferentes grupos, apresentada através de poemas, músicas, teatros, danças, simbologias, expressando a vida, a garra e a ousadia das mulheres que acreditam e lutam pela transformação da sociedade, e na construção de novas relações humanas e com a natureza.
A CAMINHADA pelo fim da violência contra a mulher chamou atenção da sociedade pelo gesto de solidariedade às mulheres vítimas de violência, pela indignação diante dos assassinatos e outras formas de violência e o convite para mudança nas relações. Também serviu para fazer a denúncia junto às autoridades e órgãos públicos da responsabilidade e urgência de medidas que possibilitem a todas as mulheres terem mecanismos e estrutura necessária para avançar no enfrentamento e o fim da violência.
As diferentes manifestações durante o encontro contribuiram para compreender os desafios colocados a fim de avançar na luta pela emancipação da mulher:
Nossos desafios:
– O fim da violência exige a luta pela transformação da sociedade e das relações humanas. Mulheres e homens precisam reencontrar a dignidade e compreender sua ação como parte do universo.
– A produção de alimentos saudáveis e diversificada supõe por um lado, o enfrentamento ao modelo de desenvolvimento capitalista industrial monopolista globalizado e suas políticas que favorecem o agronegócio e a exploração dos recursos naturais em vista do lucro e da concentração de renda; e, por outro, exige que intensifiquemos a luta pela construção do projeto de agricultura camponesa agroecológica investindo nas práticas de recuperação de sementes crioulas, plantas medicinais, produção orgânica, reeducação alimentar, avançando nas ações de preservação, proteção e recuperação dos nossos biomas.
– Fortalecer e ampliar a organização dos grupos de mulheres como espaço de reflexão, conscientização de sua condição na sociedade e formulação de estratégias da luta camponesa e feminista;
A partilha de experiências, os debates, a coragem e a consciência de que somos construtoras da história e nela queremos deixar as marcas do belo, do cuidado, da justiça social e ambiental, nos convida a assumirmos o compromisso de continuar avançando com a organização autônoma das mulheres:
Nossos compromissos:
– Avançar na construção de relações de igualdade entre os seres humanos e com a natureza;
– Fortalecer a organização das mulheres trabalhadoras, a articulação entre os movimentos feministas e da classe trabalhadora;
– Potencializar a produção agroecológica e possibilitar o acesso das mulheres às políticas públicas de crédito e comercialização e a implementação da Politica Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO;
– Ampliar as relações com os consumidores e divulgar a importância da alimentação saudável e diversificada para a saúde e o bem estar das pessoas e ambiente;
– Promover a autonomia econômica, política e social das mulheres e fortalecer a luta contra a violência;
– Participar e assumir os espaços de decisão e poder;
– Lutar pela seguridade social: saúde, previdência e assistência intensificando a luta pela ampliação do salário maternidade de 4 para 6 meses para as mulheres trabalhadoras do campo e da cidade;
– Dar visibilidade ao trabalho produtivo e reprodutivo das mulheres com a justa remuneração e a garantia de direitos;
– Lutar e denunciar todas as formas de violência do sistema capitalista, da cultura patriarcal, machista e racista que se fazem presentes no campo e na floresta através da violência doméstica, do latifúndio, agrotóxicos, transgênicos, monocultivos, doenças e outros;
– Fortalecer as relações com as organizações populares, feministas e da classe trabalhadora em torno do projeto popular para Brasil.
O Primeiro Encontro Nacional reafirmou a importância do Movimento de Mulheres Camponesas autônomo, feminista, camponês e socialista. Confirmou a missão do MMC de lutar pela libertação das mulheres trabalhadoras de qualquer tipo de opressão e discriminação; a construção do projeto de agricultura camponesa feminista agroecológico e a luta pela transformação da sociedade. Para isso, é indispensável a luta, a organização e formação potencializando as experiências de resistência popular, onde as mulheres sejam protagonistas de sua história.
“Na sociedade que a gente quer,
Basta de violência contra a mulher!”
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC/BR
Brasília/DF, 18 a 21 de fevereiro de 2013
Camponesas fazem ato de solidariedade às mulheres vítimas de escalpelamento na Amazônia doando seus cabelosA tarde de quarta-feira, 20, na programação do I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas, foi marcada por emoção e solidariedade. Camponesas presentes no evento fizeram fila para cortar e doar mechas dos seus cabelos às mulheres vítimas de escalpelamento na Amazônia, principalmente nos estados do Amapá e Pará. Os acidentes com escalpelamento ocorrem quando o cabelo enrosca e é puxado e arrancado por motores de grande rotação e sem proteção nos barcos da região amazônica. Esses motores também podem arrancar orelhas, sobrancelhas e enormes partes da pele do rosto e do pescoço, provocando deformações graves e até a morte. Entre as vítimas, a maioria é de mulheres e crianças.
De acordo com Rosângela Piovizani Cordeiro, da direção do Movimento de Mulheres Camponesas e também doadora, o ato, além da solidariedade com as vítimas, serve para chamar a atenção para o grave problema e exigir mais fiscalização nas embarcações, para que os motores não fiquem sem proteção. A deputada federal Janete Capiberibe (PSB/AP), autora da Lei 11.970/2009, que obriga, como forma de prevenir os acidentes, a cobertura do volante e eixo dos motores estacionários adaptados às embarcações ribeirinhas, foi ao I Encontro para apoiar o ato de solidariedade das camponesas e comprometer-se com a pauta nacional do movimento.
A camponesa Anita Schwade, de Santa Catarina, disse sentir-se realizada em, de alguma forma, poder contribuir. “É o mínimo que podemos fazer para ajudar em uma situação de tanto sofrimento”, afirmou. Assim como inúmeras mulheres brasileiras de vários estados, a peruana Lourdes Huanca, Presidente da Federação Nacional de Mulheres Campesinas, Artesãs, Indígenas, Nativas e Assalariadas do Peru, também doou parte de sua trança de cabelos negros para a confecção de perucas naturais para as mulheres escalpeladas. “A solidariedade não tem fronteiras”, enfatizou. Micheli Marques da Conceição, camponesa do Pará, pela primeira vez em Brasília foi outra que deixou parte dos longos cabelos cacheados. “Sinto que vou fazer alguém feliz, que posso ajudar a mudar uma história”, explicou ela.
Com um salão de beleza improvisado montado dentro do Parque da Cidade, onde está acontecendo o I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas om tesoura nas mãos e emocionada com tamanha participação das mulheres camponesas, a cabelereira Maria Vanilza Mendes Caixeta, que tem salão em Brasília e já desenvolve uma campanha de cortar de graça os cabelos das clientes que se propuserem a doar para as mulheres da Amazônia, não se cansava de fazer novos cortes e guardar com cuidado cada mecha doada. “Tomei conhecimento da situação pela imprensa e pensei que poderia ajudar. Espero que cada vez mais as doações aumentem”, contou.
Depois de separadas, as mechas são enviadas para uma entidade que reúne mulheres vítimas de escalpelamento e os cabelos são tratados para depois serem entregues, já transformados numa peruca natural, às que precisam.
Recanto Infantil: Um espaço de participação das Crianças no Encontro das Mulheres CamponesasUm espaço em que as brincadeiras se transformam em aprendizados, é assim que Catiane Cinelli, coordenadora do Espaço Recanto Infantil o define. Cinelli comenta a importância de mantê-lo no Encontro. “Com o Espaço Recanto Infantil, as mulheres conseguem participar do Encontro, e as crianças tem um espaço educativo, onde as brincadeiras se transformam em aprendizagem”, afirma.
Durante os dias do Encontro o Espaço Recanto Infantil reuniu diariamente 20 crianças oriundas de diversos estados do país. Neste período diversas atividades, como apresentações com mamulengos, teatro de bonecos, cortejo de bumba meu boi, foram desenvolvidas com as crianças.
O Espaço Recanto Infantil teve ainda contribuições de grupos do Ponto de Cultura Invenção Brasileira que embora tenham trabalhado em atividades de outros movimentos sociais, esta é a primeira vez que se inserem em um espaço infantil tão significativo como este. “Ficamos três dias trazendo cultura: mamulengos, reisado e bumba meu boi. É a primeira vez que trabalhamos com crianças, que temos uma vivência com elas e tem sido um aprendizado recíproco”, ressalta Rose Luguli, integrante de um dos grupos culturais.
Para as crianças o Espaço tem propiciado um oportunidade única de vivenciar um ambiente de conhecimento em sua própria linguagem. Geovani Carrero que tem 08 anos, diz que é “divertido ficar no espaço infantil, pois tem muitas brincadeiras, teatro e marionete. E não ficamos sem fazer nada, estamos aprendendo coisas legais”.
No fim da tarde deste dia 20 as crianças apresentaram um cortejo de Bumba meu Boi. Todas estavam caracterizadas e empolgadas com as novas descobertas.
Comunicação MMC