“As mulheres camponesas se organizando para lutar por seus direitos e melhores as condições de produção e de vida no campo..”
Neste sábado, 13 de abril se reuniram no Assentamento Pe. Jovencio, Município Pe. Bernardo, estado de Goiás, mais de 40 mulheres deste assentamento e de outros dois assentamentos vizinhos, Santa Helena e Vereda II, com o objetivo de conhecer mais o Movimento de Mulheres Camponesas – MMC, visto que um primeiro acercamento se realizou no I Encontro Nacional de Mulheres Camponesas, realizado no Parque da Cidade em Brasília de 18 a 21 se fevereiro, este encontro também permitiu realizar um intercambio de conhecimentos sobre a organização social e produtiva das mulheres camponesas, conhecer as lutas históricas das mulheres por seus direitos e a situação das mulheres no campo hoje, em espacial das mulheres assentadas.
Para a atividade foi convidada a Diretora Nacional de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente, Mirane Costa,do SINPAF (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário), que acompanhou a reunião e contribui no debate relacionado a saúde da mulher, enfatizando a necessidade de condições dignas de vida, de trabalho e de uma alimentação saudável como pilares fundamentais para lograr uma saúde integral das mulheres e de todos os trabalhadores camponeses, ela também colocou o Sindicato a disposição das camponesas neste momento inicial de debates e organização. “Queremos estar junto destas trabalhadoras que sentiram a necessidade de, como mulheres, ir a luta nos pleitos pela efetivação da reforma agrária pela melhoria das condições de vida de suas famílias como reflexo do trabalho coletivo”, destacou Mirane.
Marcia Piovizani, militante do MMC de Brasília, apresentou seu projeto de pesquisa em conjunto com a Universidade Nacional de Brasília (UNB), projeto Vidas Paralelas, que tem por objetivo levar as comunidades meios de comunicação que facilitarão o trabalho e acesso das mulheres a informações, alem de permitir dar visibilidade ao trabalho das mulheres e de sua vida cotidiana,sua cultura e suas formas de vida. As mulheres dos três assentamentos serão beneficiadas por este projeto, recebendo equipamentos de comunicação de uso coletivo como pontos de internet, computadores, telefones e câmeras fotográficas e filmadoras, como meio de aproximar as mesmas as tecnologias que lhes podem beneficiar para sua organização e trabalho.
Em nome do MMC Rosangela Piovisani, dirigente nacional, relatou a história de organização e de luta do movimento no Brasil, e a importância e a necessidade do surgimento de um movimento feminista e autônomo de mulheres camponesas. “A organização feminina no Brasil surgiu da necessidade das mulheres terem um espaço em que elas pudessem falar das suas percepções e necessidades, para ganhar força nas proposições a serem feitas dentro das próprias organizações e, posteriormente, para os governos como políticas públicas”, explicou a dirigente. Ela ainda pontuou alguns dos principais debates que hoje o MMC encampa no país, destacando a violência doméstica, a valorização do trabalho e produção das mulheres na agricultura, a preservação das sementes, a soberania alimentar da família e o espaço da mulher na organização da produção.
Logo do dialogo e intercambio de conhecimentos as mulheres camponesas colocarão suas percepções e expectativas em relação a organização das mulheres e do MMC, dos temas levantados como a agricultura familiar e a reforma agrária entre outras políticas publicas destinadas a agricultura camponesa. A camponesa do assentamento Santa Helena, Edimárcia, relatou que os problemas enfrentados vão desde o acesso ao crédito pelas famílias e, em especial, pelas mulheres até a saúde da mulher. “Não se faz reforma agrária jogando as famílias em um pedaço de terra. Quem não tem uma enxada para carpir tão pouco terá condições de fazer a terra produzir e ter as suas necessidades básicas garantidas”, afirmou Edimárcia. Ela denunciou o uso abusivo de agrotóxicos pelas fazendas vizinhas sobre as nascente de água que abastecem os assentamentos. “Mulheres estão em depressão e necessitando de tratamento, além de abortos que já aconteceram pela contaminação da água”, afirmou a dirigente. Ouras mulheres também levantaram os problemas que enfrentam em seu cotidiano, como a falta de transporte nos assentamentos para se deslocar para a cidade facilitando o acesso a saúde, educação e para o escoamento da produção, a falta de energia elétrica, ainda que os assentamentos tenham mis de 10 anos de constituição, falta de água de qualidade para consumo humano e para a irrigação dos cultivos para aumentar a produção de alimentos, a entrada das drogas e o risco que isto representa para os jovens e as jovens dos assentamentos, assim como o crescente êxodo dos mesmos do campo rumo aos grandes centros urbanos e as permanentes ameaças sofridas por dirigentes das associações por grupos contrários a organização das famílias e das mulheres assentadas,
Por fim, as mulheres se mostraram muito agradecidas pela presença do MMC e dispostas em dar continuidade a este processo de construção do MMC- DF e entorno, comprometendo-se em realizar novos encontros para formação e capacitação das mulheres, uma das pautadas levantadas como primordial pelas próprias mulheres camponesas. Neste sentido, se agendou uma reunião com as mulheres lideranças dos 3 assentamentos para o dia 25 de abril ,com o objetivo de construir a pauta de atividades e encontros com as mulheres a partir das necessidades identificadas pelas mesmas.
Esta atividade permitiu reafirmar a necessidade da organização das mulheres camponesas para lutar por seus direitos e pelo fortalecimento da agricultura camponesa no Brasil.
Por Iridiani Seibert
Fotos: Marcia Cordeiro
“Perdemos as contas de quantas vezes Dilma esteve com latifundiários, empreiteiras, mineradores e a turma das hidrelétricas”“Nesta quinta-feira, 18 de abril (…) pedimos uma audiência com Dilma, mas o máximo que nos ofereceram foi uma conversa com o ministro Gilberto Carvalho e um encontro com os demais ministros na sexta-feira, 19 de abril, Dia do Índio, para o governo ter a foto para suas propagandas de que é preocupado com as questões dos índios. Não, não queremos mais falar com quem não resolve nada!”, afirmam os povos indígenas reunidos no Abril Indígena – 2013em carta publicada pela página do Cimi, 29-04-2013.
Segundo os povos indígenas, “perdemos as contas de quantas vezes em que Dilma esteve com latifundiários, empreiteiras, mineradores, a turma das hidrelétricas. Fez portarias e decretos para beneficiá-los e quase não demarcou e homologou terras tradicionais nossas. Deixou sua base no Congresso Nacional entregar comissões importantes para os ruralistas e seus aliados”.
Eis a carta.
Desde que assumiu a presidência, em 2011, Dilma Rousseff tem se negado a dialogar com o movimento indígena. Durante esta semana, em mobilizações legítimas de nossos povos reunidos no Abril Indígena – 2013, fomos recebidos pelos presidentes da Câmara dos Deputados (Legislativo) e do STF (Judiciário). A presidenta Dilma se negou a falar conosco ou marcar audiência para os próximos dias. Por quê?
Nesta quinta-feira, 18 de abril, estivemos no Palácio do Planalto, mais de 700 lideranças, representando 121 povos indígenas. Protestamos porque nossos parentes estão sendo assassinados, porque nossas terras não são demarcadas. Pedimos uma audiência com Dilma, mas o máximo que nos ofereceram foi uma conversa com o ministro Gilberto Carvalho e um encontro com os demais ministros nesta sexta-feira, 19 de abril, Dia do Índio, para o governo ter a foto para suas propagandas de que é preocupado com as questões dos índios.
Não, não queremos mais falar com quem não resolve nada! Há dois anos entregamos, nós povos indígenas, durante o Acampamento Terra Livre 2011, uma pauta de reivindicações para esses ministros e nada foi encaminhado. De lá para cá perdemos as contas de quantas vezes em que Dilma esteve com latifundiários, empreiteiras, mineradores, a turma das hidrelétricas. Fez portarias e decretos para beneficiá-los e quase não demarcou e homologou terras tradicionais nossas. Deixou sua base no Congresso Nacional entregar comissões importantes para os ruralistas e seus aliados.
A gente não negociou nada durante os protestos no Palácio do Planalto. Queríamos dizer o que nos angustia e preocupa; queríamos dizer isso para a presidenta. Dilma está aliada de quem nos mata, rouba nossas terras, nos desrespeita e pouco se importa para o que diz a Constituição. Quando Dilma não diz nada diante de tudo o que vem acontecendo – mortes, PEC 215, PL 1610 – e ainda baixa o decreto 7957/2013 e permite a AGU fazer a Portaria 303,Dilma mostra de que lado está e sua expressão anti-indígena.
Luziânia, Goiás, 19 de abril de 2013
Povos indígenas reunidos no Abril Indígena – 2013