23/09/2020 - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas
Nota de repúdio aos pronunciamentos e ações do governo genocida de Bolsonaro

Nós, camponesas do Brasil, organizadas no Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), manifestamos o nosso repúdio aos pronunciamentos de Bolsonaro, neste seu (des)governo de morte. Um governo que privilegia o agronegócio e os latifúndios, demonstrando total IRRESPONSABILIDADE e DESRESPEITO PELA VIDA do povo trabalhador e pela sustentabilidade da NATUREZA em suas mais diversas representações de biomas. Somos solidárias às comunidades na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado que sofrem com as queimadas produzidas pelo avanço do capital sobre os territórios dos povos, sobre as culturas e saberes tradicionais, camponeses, indígenas e quilombolas, sobre as áreas onde existem preciosas espécies de flora e fauna e todo tipo de bens da natureza, que são bens comuns para a reprodução da vida e não devem ser tratados como meras mercadorias ou fontes de matéria-prima a serviço do lucro.

Nesse momento, estamos diante de um governo que promove uma necropolítica se associando ao desmatamento, ao garimpo ilegal, às violações de direitos cometidas pelas corporações mineradoras e hidrelétricas, às grandes queimadas promovidas pelo latifúndio e pelo agronegócio. Em pronunciamentos falaciosos na Organização das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro culpabiliza a nós, povos do campo, das águas e das florestas, pelas catástrofes ambientais, quando, na verdade, se averigüa por meio de operações da Polícia Federal e se constata por meio de ações técnicas e de solidariedade nos locais, que os focos dos incêndios são iniciados nas grandes fazendas produtoras de soja e criadoras de gado do latifúndio brasileiro.

Onde existe campesinato nesse país – no campo, nas florestas e nas águas estamos buscando formas de continuar produzindo alimentos saudáveis que permitam ao rural um novo projeto agroecológico de agricultura, que não destrua a natureza e promova a vida e a soberania alimentar dos povos, combatendo a volta da fome, os desmatamentos, enfrentando os latifúndios que devastam o Brasil. 

Os pronunciamentos e ações do governo genocida de Bolsonaro são favorecimentos aos interesses políticos e financeiros da bancada ruralista conhecida como parte da "bancada do boi, da bala e da bíblia”. O descaso do atual governo aprofunda a ausência do Estado às pessoas em situação de pobreza e de desigualdade social, são atentados aos interesses populares e das comunidades e são atentados às vidas indígenas, que sofreram e sofrem genocídio. Como já dito por seu ministro, neste governo está liberado “passar a boiada” por cima de nossos territórios… Mas nós, mulheres camponesas, seremos parte das barricadas em defesa da vida, compartilhando sementes, mudas nativas e alimentos saudáveis no replantar da natureza e em defesa dos direitos que têm sido queimados. 

As queimadas criminosas na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado consistem em uma das formas usadas pelo capitalismo para destruir nossa natureza e quem luta em defesa a vida em nosso país. O compromisso deste modelo de sociedade é com a formação de lucros e monopólios, com produção e exportação de commodities, com o pagamento de dívidas e rendimentos aos bancos internacionais e com benefícios para alguns grupos econômicos, entre eles o do agronegócio, gerando desmatamento e devastação ambiental em nossos biomas. 

Diante de tais situações reafirmamos nosso manifesto contra esse governo e dizemos #ForaBolsonaro! O atual problema das queimadas nos biomas reforça novamente a necessidade de dizer basta ao governo de Bolsonaro, pois ecoa um clamor por justiça vindo dos povos no Brasil: não esquecemos os crimes da mineração em Mariana e Brumadinho, destruindo a bacia do Rio Doce e os meios de vida de seus moradores; não esquecemos que no derramamento de óleo na costa brasileira no nordeste, Bolsonaro foi quem abandonou as comunidades sozinhas tentando reverter os danos ocorridos; não esquecemos os vetos nos projetos de financiamento às famílias camponesas na produção de alimentos para o campo e a cidade em meio à pandemia e ao avanço do desemprego e da fome. 

Seguimos em luta em defesa do Cerrado, da Amazônia, do Pantanal, dos seus povos e do meio ambiente em suas mais lindas representações de biomas e em defesa da vida de todo o povo brasileiro em sua diversidade.