A editora Expressão Popular, através do selo Outras Expressões, publicou o livro “Feminismo camponês popular: reflexões a partir de experiências no Movimento de Mulheres Camponesas”. Trata-se de um material de formação que parte da trajetória histórica de mulheres que se organizaram para lutar contra o sistema capitalista, patriarcal e racista. A publicação busca contribuir com o fortalecimento de toda forma de organização para avançar na resistência e no enfrentamento à discriminação, à opressão, à exploração e à violência.
Noeli Welter Taborda, camponesa de Santa Catarina e integrante da direção nacional do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), destaca que o livro é elaborado, organizado e construído por camponesas, dirigentes e militantes que moram em diferentes locais do Brasil. “São mulheres camponesas que ousam escrever sobre a história e a construção dos mais de 37 anos de movimento, abordando temas como a luta das mulheres camponesas se tornando sujeitas de direitos, a questão das mulheres indígenas, a defesa dos territórios, as ligas camponesas, o antirracismo, a abordagem do feminismo camponês e popular, a questão da agricultura camponesa versus o agronegócio, a resistência das mulheres através da agroecologia, a relação com as sementes, a alimentação saudável, a divisão sexual do trabalho, a economia feminista, o enfrentamento à violência contra a mulher, a diversidade sexual e também a mística feminista, camponesa e popular que é presente no MMC.”
Resultado de um esforço que mobilizou pesquisadoras vinculadas à base do movimento, a publicação apresenta elementos teóricos, conceituais e políticos, sobre o Feminismo Camponês e Popular. Ao longo dos 13 textos que o compõe, o livro traz elementos e concepções que foram sendo construídos a partir da organização, formação e lutas do Movimento, desde seu surgimento, contemplando ainda as diferentes realidades vivenciadas em todas as regiões do Brasil.
Glaciane Pereira, camponesa do Mato Grosso do Sul, também dirigente do MMC, reflete acerca do livro e dos temas que ele evoca. “Escrever sobre a agricultura camponesa e sua relação com a vida das mulheres têm sido muito gratificante para nós, assim podemos trazer elementos de nossa própria realidade, daquilo que é vivido por nós mulheres do campo e ao mesmo tempo colocar esses elementos em debate para toda sociedade”, afirma. “Nós sabemos que o tema do Feminismo Camponês e Popular é um tema novo e que está em construção, o que exige que nós, mulheres camponesas organizadas, possamos dar a ele vida, conteúdo, identidade e movimento”, completou.
O processo de organização do livro também se deu de forma coletiva, contando com a participação de cinco dirigentes camponesas: Adriana Maria Mezadri, Justina Inês Cima, Noeli Welter Taborda, Sirlei Antoninha Kroth Gaspareto, Zenaide Collet. De acordo com as organizadoras, “ao ler o livro, será possível ouvirmos as vozes das mulheres camponesas de nosso país. Diferentemente do que tem ocorrido com os registros da história oficial escrita por ‘vencedores’, homens brancos, abastados e que negaram às mulheres, especialmente às camponesas, o direito de estudar e escrever sobre suas vidas e trajetórias”.
Itamara Almeida, camponesa e militante do MMC no Rio Grande do Norte, que escreveu artigo acerca da luta antirracista para o livro, a quatro mãos com Cleidineide Pereira de Jesus, que integra o MMC na Bahia, destaca: “Esse livro representa um bom acúmulo de nossas reflexões em torno do nosso feminismo, além de representar um esforço coletivo das camponesas de todo o país em se desafiar a escrever, em sistematizar da melhor forma as nossas experiências de luta, de organização, de reflexão em torno do que nós temos entendido e chamado de Feminismo Camponês e Popular”, explica a militante, destacando o espaço que a publicação abriu para debater o tema da diversidade étnica e racial.
“Feminismo camponês popular: reflexões a partir de experiências no Movimento de Mulheres Camponesas” é uma obra voltada para estudantes, educadores e educadoras, trabalhadores e trabalhadoras, militantes sociais, que lutam por um mundo humano e justo que respeite todas as formas de vida, por meio de novas relações.
A publicação já está disponível para comercialização no valor de R$ 20,00 no site da editora Expressão Popular, responsável pelo selo Outras Expressões, através do qual o livro foi publicado. O lançamento se dará através de evento online a ser transmitido pelo Facebook e Youtube do MMC e da editora no dia 10 de fevereiro, às 19h.
Marcos Antonio Corbari Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) | 26 de Janeiro de 2021 às 17:58