30/03/2022 - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas
Movimento de Mulheres Camponesas celebra graduação de companheiras em universidades: conquista das lutas!

As camponesas organizadas no MMC em todo o país celebraram no último sábado, 26 de março, a conquista de mais duas militantes aguerridas de nossa organização, as companheiras Rosangela Piovizani, do MMC no Distrito Federal e Entorno, que se graduou bacharel em Direito, e Rosa Job, do MMC no Rio Grande do Sul, que recebeu o diploma em Marketing. Para o MMC, a conquista das companheiras é de cada mulher camponesa organizada em cada quintal produtivo, em cada roçado, em cada comunidade de base, em cada luta e resistência históricas já vividas. O Movimento salienta que por muito tempo o acesso à educação foi negado às camponesas e só com muita luta conseguiram chegar na universidade.

 

A companheira Nina, liderança histórica no MMC na Bahia, deixa o recado em nome do MMC em mensagem que mandou à companheira Rosangela e que resume o sentimento de todas do Movimento quando companheiras avançam. “Chorei hoje em ver a formatura, chorei só de alegria ao ver você conseguindo seu sonho que é nosso sonho!”, disse Nina. Na história do MMC, dentro dos pilares formação, organização e lutas, a luta pelo acesso ao estudo formal aos povos do campo, das águas e das florestas sempre foi um dos pontos centrais de pauta.

 

O MMC ressalta que as políticas públicas de acesso são conquistas dessa luta da classe trabalhadora e que depois do golpe de 2016 vieram muitos ataques e perda de direitos. Por isso, o Movimento denuncia o golpe e fortalece todos os dias a resistência ao atual governo genocida de Jair Bolsonaro.

 

Luta, resistência popular e emoção nas conquistas

 

Rosangela Piovizani, dirigente nacional do MMC, formou-se em direito pela turma Fidel Castro, a segunda turma de direito pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), na Universidade Federal de Goiás (UFG). “O sentimento de terminar um curso de direito por uma universidade pública, pelo Pronera, é pra mim é uma felicidade muito grande e uma responsabilidade muito grande também. Chegou um pouco tarde pra mim, mas antes tarde que nunca. Eu quero agradecer cada companheira, agradecer a Nina que é uma referência para mim, e a todas as mulheres que iniciaram a nossa organização das camponesas em períodos mais distantes”, diz Rosangela.

 

Ela enfatiza que fazer um curso de nível superior enfrentando muitos desafios e adversidades, como o corte de recursos que veio depois do golpe de 2016 e se intensificou no governo Bolsonaro, foi uma experiência de resistência junto aos colegas de turma. “Houve momentos que achamos que não íamos conseguir terminar o curso com o corte de recursos. Imagina que a gente foi de R$ 83 milhões de investimento no Pronera a quase zero”, destaca.

 

Rosangela valoriza a coletividade, organização popular e apoios institucionais que possibilitaram o avanço da turma: “Conseguimos terminar graças à emenda parlamentar do deputado Rubens Otoni (PT/GO), a muitas doações de amigos, professores, intelectuais, e dos movimentos… E quando a gente não tinha mais comida pra viver em Goiás, e nem lugar pra morar, a gente teve uma posição muito firme do reitor Edward Madureira pra ceder um espaço da universidade pra gente morar e se auto-organizar”, conta.

 

A chegada da pandemia também exigiu luta para que muitos estudantes conseguissem acesso à internet e pudessem participar das aulas online. “Mas, graças ao SUS e à ciência, tomamos a vacina contra o coronavírus e então pudemos fazer nossa formatura presencial, nos reencontrar e comemorar essa conquista da classe trabalhadora”, afirma. Junto com Rosangela, formaram-se companheiros de vários movimentos da Via Campesina e do Movimento Sindical.

 

Rosangela: formatura é conquista da resistência – Fotos: Ricardo Jataum

 

 

“Começamos com uma turma de 60 integrantes e a maioria éramos mulheres, mas chegamos ao final com 44 formandos. Percebemos que a maioria das desistências foi de mulheres, o que nos deixa tristes e nos alerta ainda mais para a questão estrutural do machismo e das questões que envolvem a vida das mulheres no cuidado com a casa, com a comida, com crianças e doentes, que impedem de avançar nos seus sonhos”, explica Rosangela.

 

Ela destaca também que a turma produziu muitos trabalhos importantes para a luta da classe trabalhadora. O tema de Rosangela foi: “Movimento de Mulheres Camponesas: Lutas e Conquistas no Reconhecimento da Cidadania, Direitos e Emancipação das Mulheres do Campo, das Florestas e das Águas”.

 

Ela destaca: “Nossos trabalhos mostram os desafios cotidianos que o nosso povo e os movimentos têm que enfrentar na busca por justiça desde as questões previdenciárias, violência doméstica, questões de raça, de encarceramento de indígenas e transexuais, acesso à terra, às sementes. Comemoramos também que algumas pessoas já passaram para mestrados outras já se ingressaram em trabalhos em diversos espaços no sistema de justiça, um bom número de nossos educandos já tem carteira da OAB e já estão advogando. Então se percebe que vamos pintando de povo esses espaços tão elitizados e embranquecidos. Mas como diz Lira Filho, o direito também vem das RUAS e foram elas, com nossas lutas, ações, manifestações, reivindicações que se construíram políticas públicas como a Educação do Campo e o Pronera”.

 

Rosa Job, aos 55 anos, formada em marketing

 

 

A companheira Rosa Job, liderança do MMC no Rio Grande do Sul, formou-se em Marketing pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar). “Fiz este curso com o objetivo principal de aplicar meus conhecimentos em nosso Movimento mesmo, venho notando ao longo dos anos que nós semeamos, plantamos, mas nem sempre somos nós que colhemos as conquistas na visão da sociedade, então tenho por objetivo colocar os conhecimentos em prática, o que já venho fazendo aqui na região. Quero ajudar a avançar para que mais pessoas conheçam o MMC”, aponta Rosa.

 

Ela conta que, depois de ter formado três filhas, uma dentista, outra veterinária e outra assistente social, todas com apoio do FIES, políticas públicas dos governos Lula e Dilma, ela buscou também se graduar.

 

“Sou uma camponesa de 55 anos, avó, que ainda tem outra formatura até o final do ano: vou me formar em Terapias Integrativas Complementares, também pela Unopar”, conta Rosa, orgulhosa das conquistas.

 

A companheira Eva Maria Dal Chiavon, atualmente na assessoria do Senador Jaques Wagner (PT-Bahia) e uma histórica militante e apoiadora do MMC, também comemora. “O MMC está de parabéns e tem que comemorar muito a conclusão do curso de direito da companheira Rosangela, essa liderança da classe trabalhadora, e todas que chegam neste momento. Parabéns aos movimentos da Via Campesina que conquistaram o direito de entrar na universidade. Que o MMC se orgulhe mesmo de tudo que fez durante sua história”, aponta Eva Maria.