Na tarde desta quarta-feira, 30 de novembro, o MMC Brasil entregou à companheira Misiara Oliveira, da Executiva Nacional do PT e integrante do GT de Mulheres da equipe de transição para o governo Lula, uma carta com pautas, preocupações e propostas das camponesas. Durante toda a semana as companheiras do MMC estão em Brasília em reuniões de trabalho, diálogos e incidências sobre a construção do novo governo popular.
Leia a íntegra da carta:
Nós, mulheres do Brasil, organizadas no Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), nos dirigimos à equipe de transição que analisa e se prepara para assumir o novo governo de Lula a partir de 2023, sugerindo propostas que visem, de fato, melhorar a vida das mulheres no nosso país, em especial às mulheres do campo, das águas e florestas.
Manifestamos o nosso repúdio, nossa dor, nossa indignação e também nossa luta constante contra todas as formas de violências cometidas contra as mulheres. Chamamos atenção aqui para o feminicídio, que possui como especificidade o fato de ser uma violência de gênero cometida contra as mulheres sempre em situação de desumanização, na qual as mulheres e meninas não são consideradas em igualdade de direitos humanos e valor.
Trata-se de um ato qualificado como hediondo na legislação brasileira, pois é movido pela desigualdade, pela inferiorização e discriminação das mulheres. Sendo um fenômeno social, a situação de violência contra as mulheres não pode ser minimizada ou invisibilizada, posto que perdura e se aprofunda constantemente quando não é reconhecida, combatida e enfrentada como tal.
O agravamento da natureza dessa violência traz consequências muito profundas, em especial aos filhos/as, pela exposição de mais vulnerabilidade ainda, quando a mãe está morta, pai preso ou foragido e estes passam a viver de favor em casas de parentes ou em abrigos públicos, provocando danos à vida, ao futuro e à saúde emocional das crianças. Dados mostram o quanto é cruel para tantas meninas e meninos pelo país, pois estima-se que somente em 2021, o feminicídio deixou 2.321 crianças e adolescentes órfãos e órfãs. E o estado não assumiu seu papel de garantir proteção e segurança.
Cabe aqui ressaltar que para cumprir nossa missão enquanto mulheres camponesas,que é a produção de alimentos saudáveis e diversificados, que se concretiza através dos quintais produtivos, é de fundamental importância que o Estado brasileiro cumpra o papel de subsidiar a produção de alimentos. Faz-se necessária a criação de políticas públicas para as mulheres do campo, das águas e das florestas para fortalecer os quintais produtivos e aumentar a produção de alimentos saudáveis para o combate a fome, bem como, para contribuir na transição para a agroecologia, que é nosso projeto de vida para o campo e a cidade que nós defendemos. Como forma também de fazer o enfrentamento ao aumento das doenças como câncer, que é decorrente do uso abusivo e indiscriminado de agrotóxicos, que se configura como mais uma das violências que atingem nossos corpos e nossos modos de vida.
Lembramos que, desde o golpe contra o Governo Dilma, em 2016, somado aos quatro anos de um governo neoliberal com práticas fascistas e autoritárias, resistimos cotidianamente aos ataques, violações e desmontes de direitos das mulheres. A situação econômica das mulheres na atual conjuntura brasileira é uma questão crucial para o aumento das violências. O preço altíssimo dos alimentos, do gás, do transporte: tudo colabora para que milhões de mulheres fiquem ainda mais reféns de uma dependência econômica, de violência patrimonial e do medo. Que não vejam saída para si e para seus filhos/as.
Por isso reconhecemos que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, no último pleito eleitoral, foi fruto de uma ampla aliança social, e nós, mulheres camponesas, estivemos nas ruas e nas redes comprometidas e atuando nas eleições.
Celebramos a eleição do Presidente Lula como a possibilidade de reconstrução do país. Reconstrução essa que exige a volta de mecanismos de participação social e o firme compromisso com a retomada das políticas públicas para as mulheres e a superação dos retrocessos que o Governo Bolsonaro impôs à vida das meninas e mulheres camponesas.
Nós, mulheres camponesas, acreditamos no diálogo entre movimentos populares e gestoras/es públicos para a formulação, implementação e avaliação das políticas públicas que visam diminuir as desigualdades sociais, de gênero, raça e etnia. Saudamos a conquista de um Governo que considera o diálogo com os movimentos sociais e populares em suas diferentes expressões, autônomo e crítico, como fundamental para a gestão democrática do Estado brasileiro.
Nos posicionamos de maneira intransigente:
Pela defesa da vida, com a construção de novas relações entre os seres humanos e com a natureza como um todo;
Pelo combate à fome e o direito humano a alimentação saudável;
Pela defesa da democracia e demais direitos garantidos na constituição brasileira;
Contra a política sistemática de produção e naturalização do ódio;
Contra a desigualdade social e o empobrecimento da população;
Contra todas as formas de violências sofridas pela classe trabalhadora em especial contra as mulheres camponesas, negras, indígenas e das periferias, bem como da população LGBTQIA+.
Ressaltamos que nosso compromisso na reconstrução do país se situa na apresentação de nossas propostas, na reafirmação e na defesa cotidiana das nossas pautas e lutas, bem como pela demanda de que alguns decretos e portarias que violaram nossos direitos e atacaram ferozmente a autonomia das mulheres sejam revogados imediatamente!
Continuaremos vigilantes e construindo o Feminismo Camponês Popular que nasce da experiência de luta das mulheres camponesas em sua diversidade (indígena, negra, quilombola, assentada, acampada, trabalhadora rural, agricultora, quebradeira de coco, pescadora artesanal, assalariada rural, extrativista etc.). Da luta por direitos, por terra, por respeito a natureza, pela agroecologia, pela soberania alimentar, pela preservação das sementes crioulas, pelo fim da violência contra as mulheres, pela participação em igualdade de condições nos espaços políticos, contra o capitalismo, o patriarcado e o racismo. Afirmamos que nos manteremos organizadas para lutar e resistir no campo, seguiremos fortalecendo nossos laços de solidariedade, amor e justiça.
Fortalecer a luta em defesa da vida! Todos os dias!
Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil
Novembro de 2022
COMPARTIENDO RESULTADOS DEL TRABAJO EN BRASIL DEL FEMINISMO CAMPESINO Y POPULAR
Una delegación de mujeres del movimiento Vía Campesina Brasil ha visitado la Dirección de Diversidad y Cooperación, explicando la situación que presenta el contexto brasileño actual, así como compartiendo la evolución y los resultados de los proyectos financiados por la Diputación Foral de Bizkaia a Bizilur – Asociación para la Cooperación y el Desarrollo de los Pueblos. La Vía Campesina tiene presencia a nivel internacional y defiende el trabajo del campesinado y la soberanía alimentaria y desde su VII Conferencia Internacional, celebrada en Derio en 2017, se dio fuerza al proceso del feminismo campesino y popular. Ana Isabel Ramalho Santana y Denilva Pinto De Araujo Dos Santos son representantes del Movimiento de Pequeños/as Agricultores/as de Brasil -MPA-, y Elisiane de Fátima Jahn es parte del Movimiento de Mujeres Campesinas -MMC-.
La Diputación apoya el trabajo del MMC desde hace años y más recientemente a través del proyecto “Semillas de Resistencia: Feminismo Campesino y Popular en la construcción de la soberanía alimentaria en Brasil.” Desde MMC, Elisiane comparte la preocupación del modelo agroexportador que prima en el país y las prácticas de deforestación; su avance sobre la Amazonia impacta en las comunidades de forma directa. A su vez, en 2016 se disuelve el Ministerio de Desarrollo Agrario, asunto que es incorporado al Ministerio de Agricultura, Ganadería y Abastecimiento. Este ministerio, entre otras funciones, es responsable de gestionar e impulsar políticas relacionadas con la actividad agroexportadora. La contradicción de intereses ha supuesto la reducción de los esfuerzos y recursos públicos destinados al cuidado de la agricultura campesina popular y familiar. Ante este escenario y como realidad, Elisiane indica que, a pesar del protagonismo de Brasil en la exportación de alimentos, el país está lejos de acabar con la inseguridad alimentaria en su territorio que se da sobre todo en mujeres. Frente a ello, preocupa la reducción del gasto en la compra pública de alimentos.
Bizilur y la Diputación Foral de Bizkaia trabajan también desde hace más de una década con MPA, y más concretamente desde 2020 a través del proyecto “Resistencias feministas: campesinas brasileñas implementa un plan estratégico de acción para la organización, formación, producción y lucha por sus derechos.” Desde este proyecto, se trabaja a través del alimento hacia la autonomía y el fortalecimiento femenino. Entre los resultados y potencialidades divisadas hasta el momento, Ana Isabel Ramalho y Denilva Pinto comparten haber identificado una mayor autonomía de las mujeres, la participación de los jóvenes en el trabajo del feminismo campesino y popular, el avance en las alianzas entre trabajadores urbanos y rurales y la mayor visibilidad de la participación de las mujeres en el proceso productivo agroecológico en sus diferentes niveles. Del mismo modo, ha aumentado la participación de mujeres en espacios públicos y políticos y en la construcción y toma de decisiones de la organización y se ha tratado la diversidad sexual, que hasta entonces era muchas veces invisibilizada. Finalmente, también nos enseñan diversos materiales que han sido elaborados para apoyar la formación de feminismo campesino y popular, incluyendo la elaboración de videos cortos que permiten incluir la participación de la población analfabeta de las comunidades.
En el recorrido del proyecto, cabe destacar la importante participación en estrategias de solidaridad durante la pandemia y algunos de los aprendizajes surgidos a raíz de este periodo. Así, Denilva comparte con la Dirección que pudieron identificar como el acceso online permitía una mayor participación de las mujeres y otros colectivos minoritarios en diversos espacios.
En este contexto y mirando a retos futuros, el Movimiento de Mujeres Campesinas y el Movimiento de Pequeños/as Agricultores/as de Brasil buscan seguir trabajando en la capacitación y el fortalecimiento de las mujeres y en la visibilidad de su trabajo en la construcción de la soberanía alimentaria. MPA enfocará sus esfuerzos también a proponer alternativas al abastecimiento popular basadas en circuitos cortos que permitan avanzar hacia la transición agroecológica. A su vez, seguirán impulsando la formación, la incidencia y las alianzas de campo-ciudad, así como el trabajo en diversidad sexual.
MMC participa da construção e entrega de carta dos Movimentos Feministas ao Grupo de Trabalho Mulheres da equipe de transição do Governo LulaO MMC Brasil participou na terça-feira, 29 de novembro, da entrega da Carta do Movimento Feminista e de Mulheres 2022 ao Governo de Transição. Um momento histórico para a luta das mulheres do campo, das águas, das florestas e das cidades. O documento pede a urgência imprescindível da criação do Ministério das Mulheres.
O MMC esteve presente em todo o processo de construção das propostas apresentadas na carta e assina junto aos demais movimentos e organizações feministas e de mulheres de nosso país. Nossas pautas pelo fim das violências no campo, nas águas e nas florestas, assim como a retomada e fortalecimento das políticas públicas para a produção de alimentos saudáveis para o povo estão no conjunto de demandas das mulheres brasileiras. Nós, mulheres do campo, estaremos alertas e lutando cotidianamente por um governo popular e que respeite e valorize a vida, o trabalho e a importância das mulheres e seus direitos.
Leia a íntegra da carta:
Carta do Movimento Feminista e de Mulheres 2022 ao Governo de Transição
Nós, MOVIMENTOS FEMINISTAS E DE MULHERES DO CAMPO DE ESQUERDA firmantes dessa carta, nos dirigimos à equipe de transição que analisa e se prepara para assumir o novo governo de Lula a partir de 2023, sugerindo propostas que visem de fato melhorar a vida das brasileiras.
Desde o Golpe de 2016, reagimos cotidianamente aos ataques, violações e desmonte de direitos das mulheres. Nos posicionamos favoráveis à candidatura de Lula e temos a expectativa de que os mecanismos de participação social voltem a ser uma prioridade do novo governo.
Estivemos nas ruas e nas redes comprometidas e atuando durante as eleições, celebramos a eleição do Presidente Lula e as possibilidades de reconstrução democrática do Estado de direito em nosso país. Essa reconstrução exige o firme compromisso com a retomada das políticas públicas para as mulheres e a superação dos retrocessos que o Governo Bolsonaro impôs à vida das meninas e mulheres brasileiras.
Nós, ativistas feministas antirracistas e anticapitalistas, das cidades, do campo, das águas e das florestas, acreditamos na relação necessária e profícua entre movimentos feministas e gestoras e gestores públicos para a formulação, implementação e avaliação das políticas públicas que visam diminuir as desigualdades sociais, de gênero, de raça e etnia.
Saudamos a conquista de um Governo que considera o diálogo com os movimentos sociais e populares em suas diferentes expressões, autônomo e crítico, como fundamental para a gestão democrática do Estado brasileiro.
Nos posicionamos de maneira intransigente pela defesa da democracia, contra a política sistemática de produção e valorização do ódio, contra o empobrecimento da população e a negação dos direitos das mulheres, da classe trabalhadora, do povo preto, quilombolas e povos originários do país!
Ressaltamos que nosso apoio na reconstrução do país se situa na apresentação de nossas propostas, na reafirmação e na defesa cotidiana das nossas pautas e lutas, bem como pela demanda de que alguns decretos e portarias que nos atingem sejam revogados imediatamente.
Defendemos como prioridade absoluta o diálogo para a revogação de medidas do Governo Bolsonaro que violaram direitos e atacaram ferozmente a autonomia das mulheres brasileiras.
Assim, consideramos fundamental e inegociável:
Enfrentamento ao racismo estrutural e ao encarceramento e genocídio da população negra, quilombola e indígena desse país; o que demanda passos para a desmilitarização e uma segurança pública que respeite os direitos humanos;
Justiça socioambiental e defesa intransigente do território dos povos tradicionais, quilombolas e originários do campo, das florestas e das águas;
Defesa dos direitos sexuais e direitos reprodutivos, com base na justiça reprodutiva e luta pela legalização do aborto;
Combate à pobreza e à fome através de políticas públicas de geração de autonomia e renda e de acesso à alimentos saudáveis produzidos pela agricultura familiar e camponesa;
Enfrentamento da superexploração e precarização do trabalho e medidas para enfrentar a desproteção social do trabalho das mulheres;
Pelo fim da LGBTQIA+fobia, lesbocídio e do transfeminicídio;
Pelo enfrentamento a todas as formas de violências contra as mulheres, crianças e meninas, incluindo a violência política de gênero considerando na formulação das mesmas as especificidades geográficas das mulheres do campo, das florestas e das águas;
Por uma democracia feminista, antirracista e antipatriarcal;
Pela democratização dos meios de comunicação, para enfraquecer e derrotar a desinformação;
Pela reforma do sistema político, com paridade de gênero, raça e etnia nas chapas e no acesso aos recursos de campanha, com a urgência do controle do financiamento privado nas campanhas políticas e da não interferência religiosa no processo político;
Defesa pela elaboração de uma Política Nacional Integrada de Cuidado, com orientação de universalização, garantia dos direitos de quem cuida e quem é cuidado, geração de emprego e autonomia econômica das mulheres, que deve ser integral e intersetorial, integrando as áreas de políticas para as mulheres, Saúde, Educação, Assistência Social, Trabalho e Emprego, com participação dos movimentos sociais em sua elaboração e avaliação;
Revogação do teto de gastos e a garantia de financiamento é condição para uma Política Nacional Integrada de Cuidado que crie e amplie as infraestruturas e serviços públicos de cuidado – como a criação do serviço público de cuidadores domiciliares de idosos por meio do SUS e/ou SUAS e a universalização do direito à creche. Tais políticas devem visar a reorganização e redistribuição da responsabilidade social pelo cuidado, enfrentando a desigualdade de gênero e raça e contribuindo para a ampliação e universalização do acesso das mulheres à seguridade social;
Por um programa de combate ao tráfico de mulheres e a exploração sexual de meninas, adolescentes e mulheres;
Por ações que se contraponham ao fundamentalismo religioso e ao conservadorismo que naturaliza e reforça a violência patriarcal.
Consideramos que para enfrentar as desigualdades exponenciadas nos últimos anos, o empobrecimento massivo, a fome, o endividamento, o feminicídio, a violação da autonomia reprodutiva, o caos na saúde pública, e garantir a reconstrução do SUS, do SUAS, do fortalecimento da agricultura familiar e camponesa e das políticas para as mulheres, é preciso enfrentar o ajuste fiscal imposto pelo Golpe de 2016 e o orçamento secreto de Bolsonaro para seus fins eleitoreiros e espúrios. Sem orçamento, não há direitos! Por isso, defendemos o firme compromisso deste Governo com a revogação do teto de gastos!
Demarcamos nossa posição antipatriarcal, antirracista e anticapitalista, anticapacitista com participação popular. Desta forma, defendemos o compromisso do governo com a real participação popular, através do apoio e efetivação das deliberações das conferências.
Defendemos uma democracia feminista, que nos acolha em nossa diversidade e nos reconheça como cidadãs e sujeitas de direito, nos garantindo participação nos espaços de decisões de poder.
Diante do exposto, como medidas emergenciais, elencamos neste documento os decretos e portarias que devem ser revogadas imediatamente, seja para reformulação e publicação com nova redação ou para sustar os retrocessos que tais decisões causam à sociedade como um todo e às mulheres em particular:
Decreto nº 10.531, de 26 de outubro de 2020, que instituiu a Estratégia Federal de desenvolvimento para o Brasil no período de 2020 a 2031, deve ser revogado, pois versa sobre a criminalização total do aborto e a adoção da escola sem partido, entre outas agendas que colidem com os direitos das mulheres;
Decreto Nº 10.570, de 9 de dezembro de 2020, que institui a Estratégia Nacional de Fortalecimento dos Vínculos Familiares e o seu Comitê Interministerial, mas não promove a igualdade entre homens e mulheres, nem promove políticas públicas de cuidado;
Decreto nº 10.906, de 20 de dezembro de 2021, que instituiu o Plano Nacional de Enfrentamento ao Feminicídio, que deve ser reescrito, levando em conta os debates sobre esse tipo de violência, além das diretrizes, normas e convenções já estabelecidas, que foram desconsideradas na redação vigente;
Decreto nº 10.112, de 2019, que institui o Programa Mulher Segura e Protegida, e precisa ser reformulado, porque não atende às diretrizes, normas e convenções já estabelecidas para o enfrentamento à violência contra as mulheres;
Portaria nº 2.561, de 2020, que dispõe sobre o Procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS, que precisa ser substituída para garantir o acesso das vítimas de violência sexual aos serviços de saúde para a interrupção da gravidez, sem criminalização ou constrangimentos;
Decreto nº 10.987, de 8.3.2022, que institui o Programa Mães do Brasil, que precisa ser substituído por uma política nacional que enfrente a mortalidade materna e se articule com o atendimento em saúde de forma integral;
Retirada da Cartilha para Gestantes, que foi discutida em audiência pública, mas foi modificada e mantidas questões sérias relativas à viabilidade fetal e inconsistências do ponto de vista dos direitos humanos;
Criação de GT bipartite (trabalhadoras/governo) permanente, no MTE sobre Trabalho Doméstico para: a) avaliar os impactos da legislação do trabalho Doméstico e a Pandemia e propor modificações/atualizações; b) propor metodologias de inspeção do trabalho doméstico; c) levantar diagnóstico e medidas preventivas relacionadas ao trabalho doméstico; d) apontar outras políticas públicas (habitação, prevenção da violência contra a mulher, creches, etc) que podem beneficiar as trabalhadoras domésticas.
Retorno do desconto no imposto de renda do empregador quanto ao trabalho doméstico formalizado;
Implementação da Convenção 189: revisão da atual legislação à luz da Convenção (Lei 150/2015 e outras normas legais), ampliação da formalização, previdência social, situação das diaristas e MEI, saúde e segurança no trabalho doméstico, fiscalização, equiparação dos sindicatos da categoria e revisão do e-Social;
Trabalho doméstico análogo à escravidão: denúncias e fiscalização; apoio às resgatadas: moradia, aposentadoria e seguros;
Trabalho Doméstico Cidadão: retomada do programa de elevação de escolaridade e formação profissional com abrangência nacional;
Políticas públicas direcionadas às trabalhadoras domésticas: programa de moradia, documentação e outros;
Criação da Poupança Social para as trabalhadoras domésticas;
Criação de instância permanente de trabalho e negociação no Ministério do Trabalho.
Defendemos ainda a integração de políticas públicas sociais de gênero, de raça, etnia e orientação sexual, através de uma atuação transversal no enfrentamento efetivo às violências praticadas nas esferas familiar, social, organizacional e política. Esta é uma questão central a ser implantada urgentemente, tendo em vista a sua complexidade, que é propulsionada pela cultura, ainda vigente, que é patriarcal, machista, racista e LGBTfóbica.
Por isto, se faz urgente que o governo implemente uma política de Estado, que efetivamente garanta serviços públicos integrados, através de redes protetivas, que intervenham nas causas culturais e nas sequelas e fatores sociais, que têm mantido nossas Mulheres em situação de violência familiar, social e política, culminando até com o feminicídio.
Entendemos que a aplicação universal da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio pressupõem a criação de uma política de Estado que:
integre em um único sistema todos os entes da federação;
garanta, de fato, a transversalidade, a integração e a eficácia das ações interministeriais e interestaduais e intermunicipais;
priorize a assistência social, educação, educação infantil, em período integral, para suas crianças, saúde integral, acesso à justiça, segurança, habitação, trabalho e renda para todas as Mulheres da cidade, do campo, das águas e das florestas.
Com isto, as mulheres terão o apoio institucional, para a eliminação dos fatores biopsicossociais, que a têm mantido em situação de violências estruturais, seja no âmbito familiar, social, organizacional e político. Esta política de Estado precisa prever a definição tripartite de atribuições, responsabilidades e financiamento entre os entes da federação para criação, instalação, manutenção e ampliação de um modelo mínimo de estrutura organizativa em cada município ou região de nosso país.
No âmbito da Saúde, defendemos:
Recomposição geral do Ministério da Saúde, que articule a Vigilância em saúde, Saúde indígena, SAS, formação de RH, gestão tripartite e, inclusive, Ministério da Mulher, por exemplo) com a ampliação da Área Técnica de Saúde da Mulher;
Na recomposição do Ministério da Saúde pensar em um espaço dentro do órgão de instância que trate das politicas estratégicas para equidade e participação popular para inclusão dos povos do campo, das águas e das florestas, povo negro, população de rua, migrantes e ciganos entre outros;
No que diz respeito ao direito aos direitos reprodutivos e direitos sexuais no que tange ao aborto legal, que haja a incorporação do mifepristone no SUS e a regulamentação do Misoprostol dentro da rede de saúde para além do uso atual na rede hospitalar;
Restauração da Política Nacional de Saúde das Mulheres em seus princípios de integralidade e com prioridade para a justiça reprodutiva;
Retomada da política de prevenção e atenção às ISTs e AIDS;
Retomada da efetivação da RAPS – Rede de Atenção Psicossocial dentro de uma perspectiva antimanicomial;
Implementação efetiva com os recursos financeiros e humanos necessários conforme está previsto na lei da Política nacional de saúde indígena;
Promoção e fortalecimento das práticas integrativas e comunitárias de saúde – PICs.
Por fim, para garantir e coordenar esta política de Estado e o processo de integração de todos os serviços públicos, torna-se imprescindível a criação do Ministério das Mulheres, que terá a missão de fomentar a criação de Secretarias Estaduais e Municipais e elaborar, com participação popular, as políticas públicas garantidoras dos direitos das Mulheres, promotoras da paridade de gênero, raça e orientação sexual e incorporadora das Mulheres no protagonismo de sua jornada de vida.
SEGUIMOS ATENTAS E NA LUTA PARA TRANSFORMAR O MUNDO PELO FEMINISMO.
Brasil, 29 de Novembro de 2022.
Assinam:
AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras
ANMIGA – Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras pela Ancestralidade Auto-Organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria
CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das comunidades Quilombolas CONTAG – Confederação Nacional das Trabalhadoras Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
CUT – Central Única de Trabalhadoras e Trabalhadores
FENATRAD – Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas LBL – Liga Brasileira de Lésbicas
Marcha de Mulheres Negras de SP
MMC – Movimento de Mulheres Camponesas
MMM – Marcha Mundial das Mulheres
MIQCB/PA- Movimento Interestadual de Quebradeiras de Côco Babaçu/Regional PA Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
Rede Fulanas NAB – Negras da Amazônia Brasileira
Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – RedeSAN
RENFA – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas.
Imagem de Mariana Leal/ASCOM