Solidariedade às vítimas do escalpelamento - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas

Notícia

Solidariedade às vítimas do escalpelamento

Desde 1970, quando os motores a combustão chegaram à Amazônia e começaram a ser instalados nos barcos, é que se têm registros de acidentes nos quais mulheres, principalmente crianças, perdem parte ou completamente o couro cabeludo, às vezes orelhas e pele do pescoço e rosto. São mais de 1.500 acidentes desde então, e ainda são registrados em média dois acidentes por mês na foz do Rio Amazonas. A maioria das ocorrências é nos estados do Para, Amapá, Amazonas e Rondônia, porém é provável que aconteçam casos em qualquer cidade litorânea ou ribeirinha onde se usam barcos com motor adaptado.

Sabemos que em nossos rios e igarapés, o meio de transporte são os barcos, canoas, rabetas, voadeiras… e estas quase nunca têm seus motores e eixos cobertos, facilitando assim graves acidentes; e como a presença e fiscalização do estado  quase não existe, grande parte dos barqueiros não tem responsabilidade com as pessoas que transportam.

Em 2007, a deputada federal Janete Capiberibe, do PSB do Amapá, criou um projeto que virou a Lei 11.970/2009, que obriga a todas as embarcações terem os volantes e eixos dos motores cobertos. Foi sancionada em 2009, portanto é LEI que vale em todo o país. Em campanhas feitas junto com a Marinha foram cobertos cerca de mil volantes e eixos dos barcos, mas ainda são muitos milhares que navegam ameaçando a saúde das meninas e mulheres.

Decidi raspar minha cabeça há muito tempo, quando completasse 50 anos. Por uma discussão, provocação, quebra de paradigma, de preconceitos de uma sociedade que estabelece padrões de beleza, idade… Então conheci a dura realidade das vítimas do escalpelamento que, em sua maioria, são mulheres e crianças. Isto mexeu muito comigo pois, se corto meus cabelos eles irão crescer, porém estas mulheres não terão a mesma sorte e seu sofrimento vai desde chegar em um hospital, que na sua maioria é distante, inviabilizando um tratamento, cirurgias para repor a pele, preconceito e exclusão social, mas cabelos nunca mais.

Podemos, no entanto, fazer nossa parte. Podemos doar nossas belas madeixas para fazerem perucas e assim contribuir com a autoestima das vitimas. Meus cabelos já foram cortados, como vocês podem ver nas fotos, e doados para a Associação das Mulheres Vítimas de Escalpelamentos, que já foram organizadas no Amapá e no Pará.

Existe uma grande campanha em vários estados para doação de cabelos. As mulheres vítimas têm se organizado através da Associação das Mulheres Ribeirinhas Vítimas de Escalpelamentos, onde recebem os cabelos doados e fazem as perucas. Aqui em Brasília, na cidade do Guará II, o salão da Dona Vannylza aderiu à campanha. O exemplo também pode servir às companheiras de todo o país.

Vamos fazer a nossa parte doando os cabelos, mas também exigindo dos barqueiros que ainda não cumprem a Lei que cubram o volante e o eixo dos motores dos barcos. Duas ou três tábuas de madeira podem resolver. Eles também podem procurar as Capitanias da Marinha para que sejam instaladas as carenagens durante as campanhas de prevenção aos acidentes. Se os barqueiros não cumprem a Lei, as embarcações e os pilotos podem ser retidos.

Grande abraço,
Rosangela Cordeiro

O lugar que almejamos é a terra onde os humanos ainda são tão perigosos quanto divinos,
onde o que é derrubado cresce de novo, e onde os ramos das árvores mais velhas florescem por mais tempo.

A mulher oculta conhece este lugar.
Ela conhece. E você também.
Clarissa P. Estés