“O Brasil precisa muito da força e da inteligência da mulher camponesa”, afirma a Presidenta Dilma Rousseff - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas

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“O Brasil precisa muito da força e da inteligência da mulher camponesa”, afirma a Presidenta Dilma Rousseff

 

Nesta terça feira, 19, o Pavilhão do Eventos do Parque da Cidade em Brasília foi palco de demonstração da força organizativa das mulheres camponesas  para a Presidenta Dilma Rousseff.

Em sua fala a Presidenta trouxe o refrão de uma das músicas cantadas pelas mulheres, “Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher”. Ela salientou sua admiração pelas camponesas em ter a garra e vontade incansável de lutar pela vida. “Eu vejo aqui em cada rosto a vontade de lutar pela vida, a energia incansável de luta dessas mulheres batalhadoras deste imenso país”, afirma.

As cerca de três mil mulheres de 23 estados brasileiros presentes no I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas foram representadas pela dirigente do MMC Rosângela Piovezani Cordeiro. Ela apontou os desafios existentes na luta de classes e salientou a importância deste momento histórico da trajetória das mulheres do campo. “Já obtivemos avanços importantes em nossas lutas mas, nós temos em nossa sociedade muitos desafios a serem enfrentados. Por isso seguimos fortes e organizadas na luta pela vida e pela dignidade das mulheres do campo”, comenta.

O tema do Encontro “Na sociedade que a gente quer basta de violência contra a mulher” pauta o debate da violência contra a mulher em duas diversas dimensões. Ao comentar  a questão a Presidenta Dilma salienta a necessidade de unidade entre todas cidadãs e cidadãos para denunciar tal prática opressora.

“Nós sabemos que acabar com a violência contra a mulher exige que nós todos estejamos atentos para reprimir a violência física. A mulher que sofre violência precisa de proteção da sociedade e do estado”, afirma a Presidenta. Ela diz ainda que “uma sociedade mais desenvolvida exige o respeito e igualdade entre homens e mulheres” e que essa igualdade deve ser a regra e não a exceção.

Durante o ato foi oficializado um acordo entre a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)  para promover o financiamento de projetos que beneficiem cooperativas e grupos informais de mulheres.

No final de sua fala, a presidenta foi surpreendida pela intervenção de uma jovem camponesa que ressaltou a necessidade de ser ter uma educação de qualidade no campo que atenda a realidade das crianças e jovens.

A pauta de luta das mulheres camponesas engloba principalmente em desafiar o atual  modelo agrícola existente no Brasil. Em sua fala durante o ato Piovezani ressalta essa questão e diz que é preciso “romper com a lógica de criminalizar o modelo de agricultura camponesa existente, desafiando o modelo agrícola voltado para exportação e com uso abusivo de agrotóxico”.

Nesse sentido as mulheres camponesas entregaram uma carta à Presidenta Dilma Rousseff em que apresentam suas reivindicações e os desafios que envolvem a luta pelo fim da violência contra a mulher, o modelo de agricultura capitalista centrado no agronegócio e uso de agrotóxicos, que impactam a vida das mulheres camponesas de norte a sul do país.

Confiram abaixo a Carta na íntegra:

Carta à Presidenta Dilma Rousseff

Nós do Movimento de Mulheres Camponesas – MMC, vindas de 23 estados, representantes de outras organizações populares, feministas, nacionais e internacionais da classe trabalhadora com o lema Na Sociedade Que a Gente Quer, Basta de Violência Contra a Mulher estamos reunidas no I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas durante os dias 18 a 21 de fevereiro de 2013, em Brasília/DF.

Este encontro traz os desafios que envolvem a luta pelo fim da violência contra a mulher, entendida como resultado do sistema capitalista, da cultura patriarcal, machista e racista que perpassa todas as dimensões da sociedade.  O modelo de agricultura centrado no agronegócio, no uso dos agrotóxicos e transgênicos torna as famílias dos camponeses (as) empobrecidas, dependentes e subordinadas, impactando diretamente as mulheres camponesas que vivem em situação de pobreza no campo e na floresta.

Na perspectiva de avançar na melhoria das condições de vida, trabalho e emancipação das mulheres do campo e da floresta, apresentamos as principais reivindicações do Movimento de Mulheres Camponesas:

1. Projeto de Agricultura Camponesa e Agroecológico:

– Implementar políticas públicas subsidiadas que potencializem  a produção de alimentos diversificados e saudáveis,  o acesso  das mulheres à terra, ao crédito, à comercialização, à assistência técnica, à pesquisa pública e a implementação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica;

– Implementar políticas públicas de incentivo financeiro, técnico e tecnológico aos grupos informais de mulheres  voltado à produção de alimentos diversificados e saudáveis, possibilitando aos mesmos  o acesso às políticas de comercialização como o PAA, o PNAE , em feiras e aos consumidores.

– Construir estratégias adequadas à realidade da agricultura camponesa, especialmente das mulheres, para garantir a qualidade sanitária dos alimentos, rompendo a lógica de criminalização que impede as mulheres de comercializar o que produzem, apoiando processos de organização, formação e capacitação.

2. Enfrentamento à Violência contra as Mulheres:

– Implementação da Lei 11.344/2006 – Lei Maria da Penha, do Pacto de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, viabilizando as políticas voltadas à proteção e assistência às mulheres camponesas;

– Disponibilizar recursos públicos para o fortalecimento das organizações de mulheres nos processos formativos, na promoção de sua dignidade e cuidado integral, contribuindo na construção da autonomia econômica, política e social das mulheres.

3. Seguridade Social: Saúde, Previdência e Assistência Social:

– Manter o princípio da Previdência pública, universal e solidária, e o conceito de Segurados (as) Especiais aos trabalhadores e trabalhadoras rurais, pescadores artesanais e extrativistas;

– Universalizar o Salário Maternidade para todas as mulheres, ampliando de 4 para 6 meses, avançando na inclusão das que estão na informalidade;

– Efetivar o Sistema Único de Saúde com acesso, inclusão das práticas populares de cuidado e atenção integral à saúde das mulheres e dos povos do campo e da floresta;

– Implementar o Sistema Único de Assistência Social com ações específicas para as mulheres camponesas.

O Primeiro Encontro Nacional reafirma a importância do Movimento de Mulheres Camponesas autônomo, feminista, camponês e socialista. Confirma a missão do MMC de lutar pela libertação das mulheres trabalhadoras de qualquer tipo de opressão e discriminação; a construção do projeto de agricultura camponesa feminista agroecológico e a luta pela transformação da sociedade. Para isso, é indispensável  a luta, a organização e formação das mulheres e a efetivação de Políticas Públicas que assegurem qualidade de vida, autonomia e protagonismo das mulheres.

Na sociedade que a gente quer,
Basta de violência contra a mulher!”

Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Brasília/DF, 18 a 21 de fevereiro de 2013