RS recebe unidade móvel para prevenir violência doméstica na zona rural - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas

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RS recebe unidade móvel para prevenir violência doméstica na zona rural

Ônibus equipado com três salas para atendimento individualizado será apresentado hoje no acampamento farroupilha, em Porto Alegre

Ônibus equipado com três salas para atendimento individualizado será apresentado hoje no acampamento farroupilha, em Porto Alegre

Depois de anos na luta para serem enxergadas, as agricultoras finalmente terão atenção do poder público no quesito violência.
Duas unidades móveis, equipadas com três salas destinadas ao atendimento sigiloso, serão doadas pela Secretaria Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres para que percorra zonas rurais do Rio Grande do Sul, orientando camponesas sobre os seus direitos. Uma delas já chegou ao Estado e será apresentada nesta quarta-feira no Acampamento Farroupilha em Porto Alegre, a partir das 11h30min.

As unidades foram uma conquista da Marcha das Margaridas (em homenagem à Margarida Maria Alves, líder sindical assassinada há 30 anos na Paraíba), composta por mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Inque Schneider foi uma das organizadoras da marcha de 2001 que conquistou em Brasília os veículos e comemora a chegada deles, pois acredita ser uma luz para aquelas que não sabem onde registrar as suas queixas.

— Mostraremos a elas que o que vivem no dia a dia é violência, sim — diz Inque.

Filha de agricultores, Carmen Lorenzoni faz parte da diretoria do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) do Rio Grande do Sul, e diz que estas unidades podem ser o começo do alívio para muitas:

— Elas vivem em silêncio, em comunidades afastadas em que as próprias casas ficam distantes uma das outras. Podem apanhar, e, mesmo que gritem e chorem, ninguém ouve.

Em 2006, Carmen estudou o tema no meio rural e descobriu que nove em cada dez gaúchas haviam sofrido algum tipo de violência _ mais de 60% tinham sido agredidas pelo companheiro.

A secretária Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, Ariane Leitão, acredita que o maior drama enfrentado pelas vítimas de agressão é a invisibilidade:

— A violência começa dentro de casa e perpassa por vários homens da família. Muitas crescem achando que isto é uma coisa normal. É esse ciclo que temos de romper.

Os primeiros atendimentos devem se iniciar na segunda quinzena de outubro. Os primeiros municípios visitados serão Pontão e Sagrada Família.

— Trabalharemos a prevenção, mas precisamos de parcerias, como da Defensoria Pública para orientação quanto aos pedidos de separação, de pensão alimentícia. O município precisa se engajar — diz a secretária.

Os veículos tiveram um investimento de mais de R$ 1 milhão do governo federal, além de cerca de R$ 400 mil do Estado. No Rio Grande do Sul, o atendimento será voltado para agricultoras, quilombolas e pescadoras. Ariane diz que, por enquanto, não deve haver a contratação de mais profissionais para o trabalho.

Raimunda Mascena, assessora especial para Questões do Campo e da Floresta da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República diz que as unidades só irão se efetivar se houver um diálogo com as organizações das mulheres trabalhadoras do meio rural para que através delas chegue à comunidade.

— Sabemos que elas não tem a rotina de sair de casa e buscar informações, por isto, antes de cada unidade chegar ao município, deverá ser programada uma mobilização local, um chamado para palestras, onde será reforçada a Lei Maria da Penha (criada em 2006 para coibir a violência contra a mulher) — diz Raimunda.

A entrega oficial dos veículos está marcada para o dia 26 de setembro.

Marginalizado, o tema da violência doméstica contra a mulher rural é pouco comentado. Em Porto Alegre, o Telefone Lilás, que recebe ligações de todo o Estado denunciando agressões e buscando informações sobre como se desvencilhar do problema. Dos 2.417 chamados de janeiro a agosto deste ano, apenas 13% vieram do Interior.

Como funcionará as Unidades Móveis para atendimento às
Mulheres em Situação de Violência no Campo e na Floresta:

— O Rio Grande do Sul receberá dois ônibus, assim como todos os outros Estados.

— Devem circular de forma itinerante no Interior, principalmente em comunidades rurais.

— Ficarão nas cidades durante um tempo a ser estipulado, conforme a necessidade de cada comunidade e as prefeituras envolvidas.

— Equipado com três salas para garantir a privacidade das mulheres, compostas de mesa, computador e impressora e ar condicionado, as unidades viajarão com psicólogos, assistentes sociais e advogados.

— A proposta é que haja o apoio de cada prefeitura, disponibilizando profissionais do município, da área da assistência social e da saúde, por exemplo.

— Também estão previstas palestras de conscientização sobre violência e os direitos das mulheres.

— Antes de uma unidade chegar a um município, será necessário o apoio de associações e sindicatos para que a informação de que o espaço será montado chegue à comunidade.Especialmente a articulação com o movimento de mulheres do campo.

— Um comitê está sendo organizado pela SPM/RS, formado pelo movimentos de mulheres rurais, entidades do campo e órgãos governamentais, para discutir políticas públicas para as mulheres rurais e também organizar o calendário que a unidade móvel terá.

— O objetivo da ação é implantar um modelo de atendimento multidisciplinar, composto por profissionais das áreas de serviço social, psicologia, atendimento jurídico e segurança pública.

Serviço

Onde buscar ajuda?

— O Telefone lilás é uma central de atendimento à mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres do RS, acessada pelo telefone gratuito 0800 541 0803. O serviço funciona de segunda a sexta, das 8h30min às 18h, e fornece informações sobre os melhores procedimentos para o encaminhamento das situações relatadas pelas mulheres.

— O 180 também pode ser utilizado gratuitamente durante 24 horas. Ele tem âmbito nacional e serve para orientar as vítimas de violência doméstica.

Alguns tipos de violência

Física: tapa, empurrão, chute, tentar asfixiar ou matar, ameaçar com arma, puxar o cabelo, morder e queimar.

Psicológica e moral: humilhar, ameaçar de agressão, chantagear e caluniar.

Sexual: forçar a mulher a manter relações sexuais, além de tocá-la e acariciá-la sem consentimento.

Patrimonial: retirar, esconder ou destruir objeto de valor, bem material, dinheiro ou documento pessoal.

Mulheres mortas de janeiro a agosto no RS

2011 — 65
2012 — 67
2011 — 36

Kamila Almeida
almeida.almeida@zerohora.com.br

FOTO: Ariane Leitão, secretária estadual de Políticas Públicas para as Muheres conhece ônibus que deve viajar o Interior do Estado (Por Luana Mesa / Secretaria de Políticas para as Mulheres, Divulgação)
Fonte: Jornal Zero Hora – RS