Lembranças de um momento que durou quatro anos de retrocessos - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas

Notícia

Lembranças de um momento que durou quatro anos de retrocessos

 

O ANALFABETO POLÍTICO

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha,

do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito

dizendo que odeia política.

Não sabe o imbecil que, de sua ignorância política, nasce a prostituta,

o menor abandonado, o assaltante, e o pior de todos os bandidos

que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas

nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht

 

 

 

Já sabíamos como seria difícil enfrentar um estado governado por alguém tão irresponsável e atroz como foram os quatro anos do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, pois conhecíamos bem o perfil desse senhor nos mais de 25 anos de vida pública enquanto deputado federal. Nunca fez um projeto sequer em área alguma, mas os ataques às mulheres, aos pobres, as pessoas de orientação sexual diferente dos ditos padrões normais, das populações indígenas e quilombolas, sempre foi sua sanha de vida, como um caçador insano.

 

 

O que vivemos foi um escárnio público dos mais pavorosos com sinais genocidas, tempo que não devemos esquecer, mas sim alumiar o futuro, manter alerta a luta popular, pois veio à tona não só a figura de um homem, mas de uma parcela importante da população que pensa e age como este senhor, sabem o que estão fazendo ou simplesmente são mentes perigosas de atos repugnantes de hostilidade e ódio do diferente. Há sim uma parcela “lumpen” que se deixa manobrar por fantasias mirabolantes, mas que contribuem para o desfecho de maldades vividas, presenciadas no último período no Brasil.

 

 

A irresponsabilidade com a vida quando pessoas estavam sofrendo com a contaminação em massa pelo vírus da Covid 19, famílias perdendo pessoas de suas vidas, parentes, amigos, conhecidos. Foi só pela pressão interna e externa que adquiriu vacinas e equipamentos hospitalares necessários para salvar vidas. Não reconheceu as inúmeras contribuições de personalidades, artistas, e de países como Venezuela, que enviou oxigênio para socorrer Manaus, capital do estado do Amazonas. Aliás, vetou a entrada do atual presidente venezuelano no nosso país de tão extremista que é! Agiu no desmonte do SUS, de materiais básicos para atendimento clínico, ao não manter e contratar profissionais da saúde nessa emergência que passamos. É impossível esquecer o descaso, as piadas com o sofrimento das pessoas com falta de ar, com o uso de máscaras, de álcool e, tão grave, o fato de gastar dinheiro público em medicamentos não recomendados pelo SUS e OMS para o combate ao vírus, como a cloroquina.

 

 

O desmonte de políticas e programas governamentais na área agrária e agrícola, áreas que aniquilou simplesmente por não garantir orçamento para que essas fossem efetivadas, para além de não executar nenhum processo de reforma agrária, liquidou com programas de desenvolvimento fundamentais para a segurança e soberania alimentar, de compra governamental, de crédito para produção de alimentos, colocando a população mais carente à margem, sem teto, sem comida, sem dignidade, e os pequenos e médios agricultores quase chegaram à falência mantendo o mínimo para a sobrevivência da unidade de produção familiar.

 

 

A educação sofreu cortes sistemáticos de recursos desde o ensino fundamental aos institutos e universidades federais, estratégia de manter as crianças, jovens e adultos na ignorância para assim controlar melhor. Cabeças, seres pensantes, instruídos não aceitam governos dominantes. As políticas de educação do campo e do Pronera já no governo Temer sofreram cortes enormes. E Bolsonaro exterminou por completo o orçamento para essa política.

 

 

O estímulo para controle, dominação através da força, do machismo, das armas desencadeou uma insanidade por parte de grupos que já existiam, mas mantinham-se nas moitas escondidos. Mas com o exemplo por parte do ex- presidente Bolsonaro, exibindo sinais de armas com as mãos ou mesmo empunhando uma, estes saíram de suas tocas mostrando o quão grave são os espaços vivem as mulheres, os negros, os pobres das periferias e do campo. Os dados de aumentos de violências domésticas, ruas, territórios, mortes, feminicídios nos amedrontam, pois quem são meus vizinhos, meus “amigos”? Será um inimigo?

 

 

O governo foi incapaz, burro? Não, ele sabia que estava fazendo e para quem estava trabalhando, nunca os milionários, fazendeiros, mineradores e empresários ganharam tanto como nesses anos de governo Bolsonaro. Difícil dizer onde se perdeu mais, que área mais atingida, pois em todas as áreas de políticas de desenvolvimento, de infraestrutura, de assistência, de segurança em todos os sentidos houve cortes ou abandono pelo estado. O que aconteceu nos últimos quatro anos aos povos indígenas, com invasões estimuladas pelo governo de mineradoras, madeireiros, grileiros é de colocar essas autoridades em banco de tribunais internacionais. Chega a ser ridícula, em dezembro 2022, a paralisação da Polícia Federal de emissão de passaportes, das agencias do INSS fechando as portas, as universidades sem recursos para pagar o básico de manutenção, bolsas estudantis.

 

 

Primeiro desafio era eleger Lula, segundo garantir que tome posse, terceiro governar. Qual nosso papel/desafio? Elegemos Lula num arco de alianças imenso que vai de esquerda a desenvolvimentista, a liberais… Ruim, sim, mas a conjuntura nos exigia isso, éramos ingênuos? Não, mas o momento era entre um estado democrático de direito ou a implantação de estado mínimo, do fascismo. Então, como já pregava Lenin, dois passos para trás e um para frente. “Bora” derrotar o fascismo depois a coisa é entre nós, quero dizer, reestabelecer o estado democrático de direito depois a disputa de classe e de projeto segue.

 

 

Temos alguns desafios colocados: governo de ampla aliança e um Congresso conservador, empresarial, religiosos pró-vida, antipovo, antidistribuição de renda. Portanto, nada de acomodação, mais que nunca devemos fazer formação desde a base, fomentar as lutas de massa, as disputas estão colocadas no âmbito do executivo e do legislativo, nas ruas e na organização popular política e social das camadas mais pobres desse país. Será bem desafiador como ser oposição se em alguns momentos vamos ter que defender a governabilidade do atual governo, vai exigir uma capacidade de elaboração, diálogo intenso, nada se pode renunciar aos nossos princípios, mas jamais devemos descuidar das ofensivas de retrocesso.

 

 

Portanto, camaradas, tarefa dada, tarefa almejada, é tarefa primordial a defesa da soberania dos territórios em todos os sentidos, defesa da soberania do país, de alimentos, do direito à vida como está escrito no artigo 5º da Constituição Federal.

 

 

Rosangela Piovizani Cordeiro
Dirigente Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC Brasil)
01/01/2022