Mensagem de uma camponesa à Aline Sousa, a mulher que colocou a faixa presidencial em Lula - MMC - Movimento de Mulheres Camponesas

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Mensagem de uma camponesa à Aline Sousa, a mulher que colocou a faixa presidencial em Lula

Nossa companheira Edcleide Silva, de Alagoas, que está em Brasília representando o MMC Brasil neste momento de posse do Ministério do governo Lula, nos traz um texto emocionante sobre seu encontro com Aline, mulher que colocou a faixa presidencial em Lula.

Aqui está o relato de Edcleide, que é uma mensagem para Aline:

 

“Estar ao lado de Aline Sousa me emociona enquanto mulher, enquanto jovem ainda, enquanto mulher alagoana das terras dos Palmares, do Assentamento Gordo em União dos Palmares, uma mulher nordestina, afro-ameríndia.

 

 

Aline que tem como profissão ser catadora de recicláveis no Distrito Federal, tem 33 anos, apenas dois anos a mais que eu, somos ambas mulheres que a sociedade machista, racista e patriarcal vive invisibilizando enquanto seres.

 

 

Sua simbologia na posse e para o Brasil vem para nos mostrar que é preciso RECICLAR, ESPERANÇAR e TRANSFORMAR a sociedade Brasileira.

 

 

Depois de ficar reconhecida mundialmente por ter sido a responsável por colocar a faixa presidencial no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a posse, Aline vem sendo abraçada e aplaudida nos espaços onde está, mas Aline não representa apenas sua subjetividade nos espaços em que anda, ela é a simbologia da resistência do povo preto, da ancestralidade que nos marca.

 

 

Ela representa as lágrimas das mães que caiam ao serem separadas de suas filhas e filhos nos navios “negreiros” que chegavam nos portos do Brasil invadido por Cabral e todos os outros colonizadores nessas terras, vastas terras que hoje respiram esperança.

 

 

Aline Sousa também representa a fome das filhas e filhos que eram apartadas e apartados de suas mães para elas serem amas de leite para a casa grande, para os filhos das mulheres brancas que não podiam ver suas tetas ficarem flácidas durante a amamentação.

 

 

Como de conhecimento e nunca escondi eu venho desse lugar que vem Aline, em estados diferentes do país e de fenótipos diferentes, ela com todos os traços afros e eu com traço indígena-brasileiro, ambas mulheres, vindas da periferia da sociedade. Ela usa as mãos para o trabalho do reciclar, do coletar aquilo que a sociedade chama de lixo e transforma. Eu tantas outras coisas boas. Eu uso as mãos para o trabalho com a terra, e mais recentemente dentro da vida acadêmica para escrever sobre uma tal de práxis.

 

 

Quando criança, Aline disse que ajudava a família catando. Quando eu era criança e antes de sermos assentadas/os na reforma agrária, nós cortávamos cana de açúcar queimada.

 

 

Aline e eu, Aline e tantas de nós somos história e vivenciamos dores em nossas vidas que nenhuma criança precisaria viver se tivéssemos um projeto de sociedade justa, se construírmos juntas e juntos um novo Brasil que derrube as estruturas do sistema opressor, racista e patriarcal.

 

 

No dia 1 de Janeiro de 2023, Aline subiu a rampa do Palácio do Planalto juntamente com uma diversidade de seres que somos para passar a faixa presidencial ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

 

Aline não subiu a rampa na representando a si mesma, Aline subiu a rampa representando nossa história, a história das/os exploradas/os. Aline representou e representa a necessidade urgente de derrubarmos o racismo, o genocídio e o feminicídio de nossas vidas enquanto mulheres. Naquele mesmo dia, eu, a mulher camponesa, entrei pelas portas do Palácio do Planalto juntamente com minha companheira Guiomar, da Bahia, outra mulher negra e camponesa, com posse de convite dourado endereçado ao Movimento de Mulheres Camponesas. Isso significa dizer que a ordem está sendo subvertida sob a ótica da participação dos povos oprimidos, mas nunca aniquilados e ainda fortes na luta no Brasil.

 

 

Segue sendo força, companheira Aline, segue sendo resistência, vamos reciclar nosso país e como disse ao Ministro Paulo Texeira durante a celebração de sua posse: “Nós viemos plantar esperança, transformação e mudança em um Ministério que representa os nossos povos, um Ministério que não pode ser feito sem a agroecologia, não pode ser feito sem combater o racismo, o patriarcado e o machismo”.

 

 

Ainda completaria dizendo: Lutaremos até que todos os nossos povos sejam livres e nossas crianças possam viver o país da esperança, esse o qual respiramos hoje mais aliviadas por termos destronado o fascismo. Ainda há muito o que ser feito e por isso continuaremos lutando contra todas as formas de violência que nos atingem.

 

 

Com carinho de quem se sentiu representada e chorou de emoção ao te ver subir a rampa, de uma camponesa para uma recicladora, de Edcleide da Rocha Silva, para Aline Sousa.

 

 

Avante sempre, companheira, a nossa história a gente faz!”

 

 

Fortalecer a luta em defesa da vida! Todos os dias!!!